Hoje, em jeito
de resumo histórico sobre o Governo de Pedro Passos Coelho, a Alice resolveu
sintetizar aqueles que considera terem sido os 7 pecados capitais da sua
governação.
A oportunidade
deste resumo não se prende com a chegada de Sócrates à propaganda política
(perdão, comentário político) nem, tão pouco, com a propalada ingovernabilidade
do País em face de um eventual chumbo do Tribunal Constitucional ao Orçamento
de Estado para 2013. É evidente que este Governo não pode durar muito mais. É
ainda mais claro que apenas se pode culpar a si próprio pelo beco sem saída em
que se meteu.
Os sete
pecados capitais foram:
1. Preguiça
Passos Coelho sempre teve consciência
de que as medidas que necessitava implementar para resolver os nossos problemas
exigiam uma revisão constitucional.
Tanto assim é que, ainda candidato,
solicitou uma proposta de revisão constitucional a Paulo Teixeira Pinto. Mais
tarde, quando começou a sentir o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés, ainda
falou de uma refundação das funções do Estado (inconsequente sem revisão
constitucional).
Das duas vezes recuou. Porventura terá
sentido que uma revisão constitucional seria um projecto difícil de
implementar. Requereria o apoio do PS. Possivelmente considerou que teria de
fazer cedências. Admitiu que, em alternativa, seria possível “convencer” o
Tribunal Constitucional da bondade das medidas a implementar.
O que quer que lhe tenha passado pela
cabeça, faltou-lhe a força, a coragem, a capacidade de argumentação e de
persuasão, a magnanimidade dos vencedores para convencer o PS. Foi vencido pelo
cansaço ainda antes de ter começado.
2. Luxúria
Passos Coelho deixou-se dominar pelo
imediatismo das paixões passageiras. Preferiu o “one night stand” das medidas
excepcionais, a construir um novo Estado a sério, com cortes na despesa e com
uma nova forma de se relacionar com os cidadãos.
Decidiu cortes temporários (até
quando?) nos funcionários públicos, taxas de solidariedade extraordinárias
(quando voltaremos ao ordinário?), aumentos nos serviços públicos, etc.
Em simultâneo, manteve um
relacionamento conspícuo, cedendo à sua lascívia e sensualidade, com alguns
interesses instalados dentro e fora do Estado, desde as forças armadas, às PPPs
e às rendas da energia.
3. Ira
Semeou ventos e tempestades, desde
logo com o seu parceiro de coligação, cujo presidente foi relegado para um
distante 3º lugar na hierarquia do Governo.
Distanciou-se do PS, a quem entendeu
nunca dar conta sobre as suas decisões. Não cuidou de estabelecer pontes que
lhe valessem em momentos de maior aperto. Em procurar, na falta de um apoio
explícito e incondicional, uma cooperação implícita e compreensiva.
Desvalorizou os parceiros sociais,
dizendo uma coisa em concertação para logo a seguir a desdizer nos jornais.
Lançando ideias mirabolantes para posteriormente fazer recuos espalhafatosos
(TSU, Horas de trabalho, Indemnizações, etc.).
A seu tempo até o Presidente da
República se demarcará de Passos Coelho e das suas políticas. Ninguém gosta de
estar do lado dos perdedores.
4. Gula
Passos Coelho não resistiu a ir para
além da Troika. Na ânsia de demonstrar a sua capacidade de acção e de
obediência face ao poder dos credores agiu como um guloso compulsivo sem
capacidade para controlar a sua cobiça.
Marcou como objectivo sermos mais
fortes, mais altos e de chegar mais longe, esquecendo que o percurso que
Portugal tem de trilhar é mais parecido com uma Maratona do que com os 100m.
Portugal nunca deu grandes corredores de velocidade mas teria uma boa
possibilidade de se dar bem numa corrida de fundo.
Infelizmente, o País não estava
preparado para o esforço adicional que se lhe exigiu. O tecido económico não reagiu
como anteciparam os modelos do Governo. Tomar demasiado de uma coisa boa pode
ser um exagero…
5. Avareza
Na impossibilidade de subjugar a
despesa com a rapidez que desejava, Passos Coelho olhou para o rendimento dos
contribuintes como fonte “inesgotável” de receita.
Aqui também foi insaciável. Todo e
qualquer incumprimento de redução da despesa e todo e qualquer desvio
orçamental foi corrigido com o recurso a essa droga viciante que dá pelo nome
de “impostos” e o seu sucedâneo, não menos letal, conhecido por “taxas”.
O contribuinte fica na ignorância,
como sempre. De quanto mais irá sofrer, durante quanto tempo, e a título de
quê? O que é que os seus impostos e taxas estão verdadeiramente a pagar?
Défices antigos? Despesas supérfluas actuais? Juros?
6. Inveja
Um sentimento que Pedro Passos Coelho
tem tentado incutir na discussão política, quando arregimenta umas “classes”
contra as outras, a bem do desígnio que persegue.
Ele é funcionários públicos contra
privados. Pensionistas contra trabalhadores no activo. Empregados contra
desempregados, Desempregados contra emigrantes, etc., etc. Nunca a luta de
classes foi tão utilizada para fundamentar a actuação do Governo na busca de um
suposto bem comum que nenhuma das classes é capaz de vislumbrar.
Não deixa de ser caricato que tanto
conflito de classes seja promovido por um Governo (supostamente) tão liberal.
Fosse Marx vivo e rejubilaria!
7. Vaidade
Todos os pecados acima mencionados são
cometidos com grande soberba. Passos Coelho acha convictamente que ele é o único
capaz de evitar que o País se dirija ao desastre há muito anunciado.
Ele foi “O Escolhido” para esta cruzada.
Ele está numa missão. Não tem tempo a perder com coisas comezinhas como o tribunal
constitucional, a oposição, os comentadores. A sua superioridade não é só
factual nem sequer advém de um qualquer mandato explícito concedido por
terceiros (o povo, claro), ela é moral.
Sem comentários:
Enviar um comentário