segunda-feira, 1 de abril de 2013

Os sete pecados capitais de Pedro Passos Coelho


Hoje, em jeito de resumo histórico sobre o Governo de Pedro Passos Coelho, a Alice resolveu sintetizar aqueles que considera terem sido os 7 pecados capitais da sua governação.

A oportunidade deste resumo não se prende com a chegada de Sócrates à propaganda política (perdão, comentário político) nem, tão pouco, com a propalada ingovernabilidade do País em face de um eventual chumbo do Tribunal Constitucional ao Orçamento de Estado para 2013. É evidente que este Governo não pode durar muito mais. É ainda mais claro que apenas se pode culpar a si próprio pelo beco sem saída em que se meteu.

Os sete pecados capitais foram:

1.    Preguiça

Passos Coelho sempre teve consciência de que as medidas que necessitava implementar para resolver os nossos problemas exigiam uma revisão constitucional.

Tanto assim é que, ainda candidato, solicitou uma proposta de revisão constitucional a Paulo Teixeira Pinto. Mais tarde, quando começou a sentir o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés, ainda falou de uma refundação das funções do Estado (inconsequente sem revisão constitucional).

Das duas vezes recuou. Porventura terá sentido que uma revisão constitucional seria um projecto difícil de implementar. Requereria o apoio do PS. Possivelmente considerou que teria de fazer cedências. Admitiu que, em alternativa, seria possível “convencer” o Tribunal Constitucional da bondade das medidas a implementar.

O que quer que lhe tenha passado pela cabeça, faltou-lhe a força, a coragem, a capacidade de argumentação e de persuasão, a magnanimidade dos vencedores para convencer o PS. Foi vencido pelo cansaço ainda antes de ter começado.

2.    Luxúria

Passos Coelho deixou-se dominar pelo imediatismo das paixões passageiras. Preferiu o “one night stand” das medidas excepcionais, a construir um novo Estado a sério, com cortes na despesa e com uma nova forma de se relacionar com os cidadãos.

Decidiu cortes temporários (até quando?) nos funcionários públicos, taxas de solidariedade extraordinárias (quando voltaremos ao ordinário?), aumentos nos serviços públicos, etc.

Em simultâneo, manteve um relacionamento conspícuo, cedendo à sua lascívia e sensualidade, com alguns interesses instalados dentro e fora do Estado, desde as forças armadas, às PPPs e às rendas da energia.

3.    Ira

Semeou ventos e tempestades, desde logo com o seu parceiro de coligação, cujo presidente foi relegado para um distante 3º lugar na hierarquia do Governo.

Distanciou-se do PS, a quem entendeu nunca dar conta sobre as suas decisões. Não cuidou de estabelecer pontes que lhe valessem em momentos de maior aperto. Em procurar, na falta de um apoio explícito e incondicional, uma cooperação implícita e compreensiva.

Desvalorizou os parceiros sociais, dizendo uma coisa em concertação para logo a seguir a desdizer nos jornais. Lançando ideias mirabolantes para posteriormente fazer recuos espalhafatosos (TSU, Horas de trabalho, Indemnizações, etc.).

A seu tempo até o Presidente da República se demarcará de Passos Coelho e das suas políticas. Ninguém gosta de estar do lado dos perdedores.

4.    Gula

Passos Coelho não resistiu a ir para além da Troika. Na ânsia de demonstrar a sua capacidade de acção e de obediência face ao poder dos credores agiu como um guloso compulsivo sem capacidade para controlar a sua cobiça.

Marcou como objectivo sermos mais fortes, mais altos e de chegar mais longe, esquecendo que o percurso que Portugal tem de trilhar é mais parecido com uma Maratona do que com os 100m. Portugal nunca deu grandes corredores de velocidade mas teria uma boa possibilidade de se dar bem numa corrida de fundo.

Infelizmente, o País não estava preparado para o esforço adicional que se lhe exigiu. O tecido económico não reagiu como anteciparam os modelos do Governo. Tomar demasiado de uma coisa boa pode ser um exagero…

5.    Avareza

Na impossibilidade de subjugar a despesa com a rapidez que desejava, Passos Coelho olhou para o rendimento dos contribuintes como fonte “inesgotável” de receita.

Aqui também foi insaciável. Todo e qualquer incumprimento de redução da despesa e todo e qualquer desvio orçamental foi corrigido com o recurso a essa droga viciante que dá pelo nome de “impostos” e o seu sucedâneo, não menos letal, conhecido por “taxas”.

O contribuinte fica na ignorância, como sempre. De quanto mais irá sofrer, durante quanto tempo, e a título de quê? O que é que os seus impostos e taxas estão verdadeiramente a pagar? Défices antigos? Despesas supérfluas actuais? Juros?

6.    Inveja

Um sentimento que Pedro Passos Coelho tem tentado incutir na discussão política, quando arregimenta umas “classes” contra as outras, a bem do desígnio que persegue.

Ele é funcionários públicos contra privados. Pensionistas contra trabalhadores no activo. Empregados contra desempregados, Desempregados contra emigrantes, etc., etc. Nunca a luta de classes foi tão utilizada para fundamentar a actuação do Governo na busca de um suposto bem comum que nenhuma das classes é capaz de vislumbrar.

Não deixa de ser caricato que tanto conflito de classes seja promovido por um Governo (supostamente) tão liberal. Fosse Marx vivo e rejubilaria!

7.    Vaidade

Todos os pecados acima mencionados são cometidos com grande soberba. Passos Coelho acha convictamente que ele é o único capaz de evitar que o País se dirija ao desastre há muito anunciado.

Ele foi “O Escolhido” para esta cruzada. Ele está numa missão. Não tem tempo a perder com coisas comezinhas como o tribunal constitucional, a oposição, os comentadores. A sua superioridade não é só factual nem sequer advém de um qualquer mandato explícito concedido por terceiros (o povo, claro), ela é moral.

Passos Coelho está tão cheio de si próprio que nem consegue ver os pecados que comete na sua cruzada. Estes vão-lhe ser fatais... a ele e a nós...

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